O Homem de Ferro possui algumas das histórias mais sensacionais dos quadrinhos. Claro que, como todo herói, o playboy passou por algumas fases fracas e pelas mãos de autores sem capacidade de cria algo realmente interessante para ele. Para se ter uma ideia, durante alguns anos, Stark enfrentou alguns dos vilões mais toscos das HQs (na falta do Mandarim ou do Monge de Ferro).

Foi quando o roteirista David Michelline resolveu apresentar Tony ao pior vilão que o herói poderia enfrentar (e até hoje é o maior estrago causou na vida dele). Na trama, Hammer consegue manipular a armadura de Stark e acaba desencadeando a morte de um embaixador. O caminho para o fim do poço estava trilhado e o playboy, com a imagem praticamente destruída, embarca numa viagem ao lado de um antigo companheiro: o álcool.

Durante todo o arco de “Demônio da Garrafa”, Michelline construiu com maestria a decadência do homem. A cada novo problema, novas doses. E quanto maiores esses problemas, maiores eram os porres. E dessa maneira, aos poucos, vamos percebendo o óbvio. Stark está se tornando um alcoólatra. No decorrer da trama, veremos uma batalha que vai além do esforço físico. Uma batalha mental pela sanidade e contra o vício.

Muitos consideram essa a aventura mais importante do Homem de Ferro. Não sabemos dizer se realmente é, mas podemos, com certeza, garantir que é uma ótima história, que deve ser lida por todos aqueles que se dizem fã de quadrinhos.

Sandman – Despertar

Posted: 26/08/2014 in Quadrinhos

E chegamos ao final de uma das séries mais emblemáticas do mundo. E com um título muito sugestivo. O álbum Despertar serve como um grande e pomposo ritual de despedida. E ao término da obra, os leitores acordam para a realidade, deixando o Sonhar para trás (após nove anos da mais pura fantasia).


Com a morte do primeiro “aspecto” do Sonho (substituído por Daniel, filho de Lyta Hall), seus irmãos Perpétuos reúnem-se para prestar a última homenagem a Morpheus. Falando sobre perdas, mudanças e recomeços, Despertar é o final perfeito para um dos quadrinhos mais importantes de todos os tempos.

A trama deve ser degustada calmamente, apreciando cada linha e cada traço. Neil, na época do lançamento do último arco, emitiu uma frase capaz de acalentar os fãs e termino esse post fazendo de suas palavras as minhas: ” Aquilo que é sonhado jamais poderá se perder, jamais poderá deixar de ser sonhado”.

Sandman – Entes Queridos

Posted: 25/08/2014 in Quadrinhos

E chegamos ao nono e penúltimo livro da série “Sandman”. Neste volume iremos entender, definitivamente, os motivos que transformaram essa obra em clássico e que elevaram Gaiman ao status de gênio moderno. É nesse volume que o autor, simplesmente, pega todas os fios soltos e amarra tudo no maior evento da vida de Sandman, preparando o desfecho de sua brilhante série e costurando os fatos que permaneciam em aberto. 

Sonho tirou a vida de alguém do seu sangue, seu filho Orpheus. No presente, o pequeno Daniel, o filho de Lyta Hall, gerado no Sonhar durante o exílio forçado de Lorde Morpheus, é misteriosamente raptado. E, quando as pontas são unidas, as temidas Fúrias saem à caça de Sonho com um único objetivo: puni-lo com a morte. Essa trama irá trazer de volta muitos personagens aparentemente sumidos.

De maneira totalmente premeditada, Gaiman dará coerência a tudo que foi visto desde Prelúdios, provando que nada narrado anteriormente foi por acaso. Isso torna este o arco mais complexo de toda a série, possuindo dezenas de pequenos detalhes que somente serão percebidos após uma releitura atenta de todos os volumes anteriores.

A arte de Hempel é limpa e extremamente estilizada. A mudança foi uma grata surpresa (com exceção de alguns fãs xiitas que teimam em dizer sua arte não combinava com Sandman) e trouxe uma brisa de novidade à série. Hempel consegue, sem exageros e com poucos traços, passar uma gama de sentimentos e emoções.

Sandman – Fim dos Mundos

Posted: 23/08/2014 in Quadrinhos

Em Fim dos Mundos, vemos mais um conjunto de contos fabulosos de Gaiman. A trama é muito simples: Brant Tucker é um homem normal que sofre um acidente de carro e vai parar na estalagem no fim de todos os mundos, onde encontra outras criaturas e seres místicos. Presos no local graças a uma “tormenta de realidades”, os personagens contam histórias uns aos outros para passar o tempo. Essa é a única ligação entre os contos apresentados no volume.

Claramente inspirado na obra “Os Contos de Canterbury” (aqui no Brasil, podemos dizer que ela nos remete ao clássico da literatura brasileira “Noite na Taverna” de Alvares de Azevedo), cada um dos
viajantes preso naquele local irão narrar verdadeiras reflexões filosóficas. Para cada um deles, essas histórias são as coisas mais valiosas que eles possuem e que podem compartilhar. Isso fica claro a todo momento, ao término de cada narração.

É muito interessante notar que Sandman e os Perpétuos não passam de meros coadjuvantes desse volume, ficando toda a trama sustentada nesse baú de narrativas, visões e sonhos. No fim, esse volume, tal qual os anteriores, é consistentemente bom. Os artistas são rostos deveras conhecidos dos fãs da série.

Sandman – Vidas Breves

Posted: 22/08/2014 in Quadrinhos

Para quem acompanhou a saga do Lorde dos Sonhos até esse momento, vai se surpreender com o arco Vidas Breves. As histórias desse volume são as que melhor se encaixam, sem muitas arestas ou pontas soltas. Gaiman resume muito do universo criado em sua mente aqui. Numa mistura perfeita de drama e comédia, a história passa de um simples road movie para uma obra extremamente filosófica e profunda.

Na trama, Delírio começa a se sentir instável novamente e deseja buscar por seu irmão perdido Destruição. Para ajudá-la nessa busca ela convida Sonho (que inicialmente aceita apenas para esquecer uma desilusão amorosa. Uma série de mortes e acidentes começam a acontecer as pessoas em torno da dupla e a aquelas que eles buscam, fazendo-os perceberem a profundidade do problema em que se envolveram. Pelo caminho, os dois Perpétuos encontrarão antigos deuses esquecidos por seus adoradores, humanos com séculos de vida, gente comum e até um parente que não pretendiam rever. E todos, cada um a seu modo, pagarão um preço por essa jornada.

O grande trunfo desse arco acaba sendo o ar cômico personificado em Mervyn Pumpkin Head, o “zelador” do Sonhar e contraponto de Morpheus. O escape criado por Gaiman para criticar a infantilidade adolescente do perpétuo. Por fim, nos resta uma lição de filosofia com Destruição, que dá voz a genialidade de um dos melhores autores de quadrinhos do mundo. Vidas Breves prova aquilo que todo fã já sabe. As HQs são, muitas vezes, mais literatura do que muitos livros.

Para terminar, façamos uma menção honrosa para Jill Thompson. Em seu melhor momento, a artista amplia toda a emoção da história com seus traços estilizados e toda sua capacidade de dimensionar personagens, dando-lhes personalidades e expressões únicas.

Mais um volume de contos desconexos (claro que quando falamos sobre Gaiman, a falta de conexão é uma coisa subjetiva, pois ele sempre encontra uma maneira de amarrar tudo). São ao todo nove histórias que acontecem fora de qualquer cronologia. As histórias foram lançadas, originalmente, antes do volume 05 e em algumas edições especiais (como Sandman Special # 1 e Vertigo Preview). Os contos são fechados e podem ser lidos isoladamente.

A obra faz uma mistura engenhosa de contos de fadas, eventos históricos reais, mitologia clássica e fantasia pagã. Em suas novas jornadas pelo infinito, o Senhor dos Sonhos nos dá a conhecer os segredos que unem imperadores e atores, divindades e seres da natureza, reis e demônios, lobisomens e corvos. E também nos revela o sonho trágico de Orpheus, que marcou para sempre a relação entre pai e filho.

Dentre as histórias do volume, destacamos duas: “Regiões Abstratas” (um conto idílico sobre Marco Polo e o que seriam suas expedições pelo Oriente) e ” A Canção de Orpheus” (uma fábula grandiosa, misturando elementos da mitologia grega aos Perpétuos). Essa última, definitivamente, representa o ápice de todo o livro.

No geral, Gaiman demonstra mais uma vez sua habilidade inigualável de criar histórias, sejam elas singelas ou brutas. A arte permanece, como sempre, altamente competente. Nas mãos de Bryan Talbot, Stan Woch, P. Craig Russell, Shawn McManus, John Walkiss, Jill Thompson, Duncan Eagleson, Kent Williams, Mark Buckingham, Vince Locke, Dick Giordano, Daniel Vozzo, Digital Chameleon e Sherilyn Valkenburgh.

Sandman: Um Jogo de Você

Eis um arco que não possui nenhum consenso entre os fãs: uma parte acha Um Jogo de Você o mais fraco de todos, enquanto outra parte o considera um dos melhores. Sabe aquelas obras que você ama ou odeia? Este volume representa isso muito bem. Apesar disso, estas são as histórias mais intimistas de toda a série. Inclusive, o próprio Gaiman diz ser este o seu arco favorito. Percebemos que Neil se esforça muito para criar uma história consistente, mas fica a desejar.

Como podem ver, nós não gostamos muito desse volume. Achamos a narração completamente desnecessária e quase nada da mesma conseguiu prender nossa atenção. A leitura também não é das mais agradáveis. Bom, mas vamos à trama. Numa viagem entre o sonho e a realidade, vemos Barbie (de A Casa de Bonecas) envolta numa missão sem esperança contra um ser conhecido apenas como o Cuco. Para enfrenta-lo, dependerá de um grupo que inclui animais falantes, um travesti, um casal de lésbicas meio punk, uma pedinte urbana, uma cabeça decapitada falante e uma bruxa vodu.

Aliás, a presença da bruxa Thessaly (a qual exercerá um papel importante no destino de Morpheus), é uma das poucas coisas que salva esse volume. Neil mistura temas como bruxaria e sonhos à uma realidade crua, tratando de alguns assuntos que ainda eram tabus na época do lançamento da revista, como homossexualidade e transexualidade.

As artes ficam a cargo de Shawn McManus, Colleen Doran, Bryan Talbot, George Pratt, Stan Woch, Dick Giordano, que efetuam o serviço de maneira impecável. Sua leitura, de modo algum, é indispensável. Ela possui alguns méritos e aconselhamos sua leitura, mas não garantimos que vocês gostem. Mas acima de tudo, é uma história de Gaiman.

E chegamos ao mais importante arco de toda a série criada por Gaiman. Embora não sejam as melhores histórias, esse arco reúne as publicações entre 1990 e 1991, é o mais famoso. Nesse período vimos uma explosão nas vendas e muita gente começou a ler a saga do Lorde de Sonhar nesse momento. Além disso, é nesse arco que, finalmente, somos apresentados a todos os Perpétuos.

A trama geral mostra Sandman indo ao submundo resgatar a sua ex-amante, Nada. Lá, Lúcifer abre mão do Inferno, trancando-o e entrega as chaves do plano para Sandman tomar conta e fazer o que bem entender. Isso faz com que dividades de diversas religiões procurem por Sandman em pleno sonhar reclamando o controle sobre a região. Gaiman nos faz passear entre o Inferno, os Jardins do Destino, a cidade dos anjos e Sonhar (é claro).

A entre-série do volume é ilustrada por Matt Wagner e é uma história claustrofóbica sobre um menino que sofre o pior bullying possível: o que dura toda a eternidade. Eu, particularmente, considero o conto um tanto quanto inútil, mas há quem goste.

A arte fica a cargo de alguns dos melhores desenhistas da epóca, sendo: Kelley Jones, Malcom Jones III, P. Craig Russel, George Pratt, Dick Giordano e Mike Dringenberg.

E chegamos ao mais importante arco de toda a série criada por Gaiman. Embora não sejam as melhores histórias, esse arco reúne as publicações entre 1990 e 1991, é o mais famoso. Nesse período vimos uma explosão nas vendas e muita gente começou a ler a saga do Lorde de Sonhar nesse momento. Além disso, é nesse arco que, finalmente, somos apresentados a todos os Perpétuos.

A trama geral mostra Sandman indo ao submundo resgatar a sua ex-amante, Nada. Lá, Lúcifer abre mão do Inferno, trancando-o e entrega as chaves do plano para Sandman tomar conta e fazer o que bem entender. Isso faz com que dividades de diversas religiões procurem por Sandman em pleno sonhar reclamando o controle sobre a região. Gaiman nos faz passear entre o Inferno, os Jardins do Destino, a cidade dos anjos e Sonhar (é claro).

A entre-série do volume é ilustrada por Matt Wagner e é uma história claustrofóbica sobre um menino que sofre o pior bullying possível: o que dura toda a eternidade. Eu, particularmente, considero o conto um tanto quanto inútil, mas há quem goste.

A arte fica a cargo de alguns dos melhores desenhistas da epóca, sendo: Kelley Jones, Malcom Jones III, P. Craig Russel, George Pratt, Dick Giordano e Mike Dringenberg.

E chegamos ao mais belo dos arcos criados por Gaiman para os Perpétuos. Não são, necessariamente, as melhores histórias de Sandman, mas os contos aqui compilados são muito interessantes. São apenas quatro e todos narram, de maneira curta e direta, um pouco mais sobre Sonho e Morte. Gaiman utiliza cada uma das narrativas para explorar alguns fatos do passado de cada um dos Perpétuos, além de adicionar novos personagens.

Todas as histórias podem ser lidas isoladamente, sem necessidade nenhuma de conhecer o que foi publicado até então. Não existe importância cronológica, portanto podem ser lidas em qualquer ordem. É claro que, sendo um escritor da estirpe de Gaiman, ele deixa alguns fios soltos que serão vistos mais para frente, mas nada que atrapalhe o entendimento das mesmas. Os contos do volume são: “Calíope”, “Um Sonho de Mil Gatos”, “Sonho de uma Noite de Verão” e “Fachada”.

Dentre todas, aconselho que Calíope e Fachada sejam lidos mesmo por aqueles que não gostem de Sandman. As duas histórias são fascinantes, filosóficas e repletas pela inteligência e sagacidade de um autor acima da média. Em Calíope, o fantástico se une ao horror para ensinar que devemos tomar cuidado com o que desejamos e que nossos atos sempre possuem um preço. E Morpheus vai dar essa lição a um escritor mesquinho e desesperado. E em fachada, vemos uma singela (e sufocante) história sobre uma heroína e sua conversa com a Morte.

Malcom Jones III, Kelley Jones, Charles Vess e Colleen Doran desenham (sempre a quatro mãos) as histórias e se mostram totalmente competentes para tanto.

E voltamos para o segundo arco de Sandman. Eu, particularmente, acho esse o melhor arco de toda a série. As histórias incluídas nesse volume são as mais instigantes de todas, apresentando personagens realmente interessantes e, a meu ver, que poderiam ter sido muito mais utilizados (como os pesadelos Bruto, Glob e o melhor de todos, Coríntio).

Logo no começo, conhecemos uma antiga amante de Morpheus, Nada e vemos um breve conto de seu romance com o senhor dos sonhos. Logo em seguida, entramos na trama principal. Com passagens entre a Terra e Sonhar, vemos Morpheus tentando restabelecer a ordem de seus domínios. Alguns dos pesadelos, durante sua ausência, passaram a aterrorizar os humanos e estão perigosamente abalando um equilíbrio de Sonhar. Entre esses pesadelos está Coríntio (no auge da insanidade absoluta).

Além disso, somos apresentados a Rose Walker. Ela é neta de Unity Kinkaid, uma senhora que sofreu a doença do sono. Unity foi violentada durante seu eterno sonho e deu a luz a uma menina, a mãe de Rose. Gaiman também nos apresenta outros Perpétuos nesse volume: Desejo e Desespero. O que se segue é simplesmente pura genialidade. Uma seita de Serial Killers, o surgimento de um Vórtice (uma pessoa que surge a cada era, capaz de romper as barreiras do Sonhar), e um desfecho completamente surpreendente.

Nesse volume também começam as famosas entre-séries de Gaiman. Geralmente são histórias envolvendo Morpheus, mas que nada têm a ver com o arco em si. Elas ficaram famosas por receberam desenhista de alta estirpe, convidados por Neil. Nesse volume temos “Homens de Boa Fortuna”, o melhor conto do senhor dos sonhos. Caso não leiam Casa de Bonecas, procurem pelo menos essa história.

As artes de Mike Drigenber e Malcom Jones III estão impecáveis.

Hoje vamos começar um verdadeiro trabalho pesado. E pensando bem, para uma página que pretende falar sobre os principais quadrinhos do mundo, demoramos muito para falarmos sobre essa. Ao nosso ver, a obra mais importante de todos os tempos das HQs. Sim, estamos falando de Sandman. Mas vamos fazer de uma maneira diferente. A obra, dividida originalmente em 10 arcos, é tão densa que eu nunca, em sã consciência, me atreveria a falar sobre todas neste diminuto espaço. Por isso, nas duas próximas semanas, esta página irá falar exclusivamente sobre o senhor dos sonhos. A cada dia iremos apresentar cada um dos arcos isoladamente.

Antes de falarmos sobre o primeiro arco, Prelúdios e Noturnos, falaremos sobre Neil Gaiman e as raízes desse fantástico trabalho. Gaiman é, ao meu ver, o mais conceituado escritor e romancista das últimas décadas. Sua capacidade de criar mundos e personagens extrapola a simples imaginação, quase com um poder. Neil foi um dos escritores da chamada invasão britânica dos anos 80. Ele já havia publicado algumas histórias, mas foi Sandman, lançado em 1988 pela Vertigo que alçou Gaiman a mainstream.

Bom, em Prelúdios e Noturnos, Gaiman nos apresenta o personagem que dá nome a revista. Sandman é um dos Perpétuos (seres responsáveis pelo ordenamento do universo. Eles são Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio). Sandman (ou Morpheus ou Sonho) é aprisionado por um grupo de ocultistas, por mais de 70 anos. Durante sua prisão, o reino de Sonhar (reino de Morpheus, onde as almas de todos aqueles que dormem se encontram) entra em colapso e um mal conhecido como “doença do sonho” recai sobre algumas pessoas. As vítimas dessa moléstia não conseguem acordar ou dormir.

Quando o lorde de Sonhar se vê livre, ele parte em busca de seus objetos de poder (uma bolsa com areia do sono, um elmo e um rubi) para poder estabilizar o Sonhar, que encontrava-se em plena decadência. E recuperar seus pertences, ele irá viajar de Londres a Gotham, passando inclusive pelas inóspitas regiões do inferno. Gaiman foi genial ao incluir o Perpétuo no universo da DC. Em suas páginas veremos participações desde John Constantine até a do Caçador de Marte.

A Panini vem fazendo um trabalho primoroso com as versões definitivas e, mesmo com o preço tão alto e lançamentos distantes entre um volume e outro, vale a pena. Para quem quiser, as edições lançadas pela Conrad também são muito boas.

No dia 25/06/2014, falamos aqui no Uma HQ por Dia, sobre O Segredo do Licorne, de Hergé. A HQ de hoje, O Tesouro de Rackham o Terrível, é a continuação direta do Licorne. A obra foi publicada em 1944. A Alemanha nazista havia ocupado o território Belga. No meio desse temporal político, Hergé diminui o tom politizado das primeiras aventuras do jovem repórter e apostou com muita enfase na simples e pura aventura. E as histórias desse período são consideradas pela mídia especializada como as melhores de Hergé.

Para quem não conhece, Tintim é um jovem repórter belga, que auxiliado por seu cão Milu e pelo amigo Capitão Haddock, se envolve nas mais fascinantes aventuras. As histórias de Hergé passeiam por diversas veredas, misturando doses de espionagem e ficção científica ao seu tradicional humor. Na trama desta, Tintim e o capitão Haddock, depois dos acontecimentos de O Segredo do Licorne, partem em busca dos destroços do velho navio. Junta-se a eles o extravagante professor Girassol, que se tornará um companheiro constante dos nossos heróis. 

Hergé, mais uma vez, mostra o motivo de ser considerado um dos autores mais importantes do mercado de quadrinhos mundial. A sua competência em narrar histórias é vista desde o início e ele vai nos deixando cada vez mais ansiosos pela conclusão da aventura.

E segue também Tintim e o Segredo do Licorne:
https://www.facebook.com/umahqpordia/photos/pb.1516784038541593.-2207520000.1407980075./1519047871648543/?type=3&theater

O Louco a Caixa e o Homem

Posted: 12/08/2014 in Quadrinhos

Há alguns anos, durante a Virada Nerd que aconteceu ali na loja Terramédia, pude adquirir essa ótima HQ, criada por dois dos nomes mais interessantes no mercado atual dos quadrinhos brasileiros: Daniel Esteves e Will. Tá, eu sou suspeito para falar. O Daniel foi o cara que me ensinou muito que eu sei sobre a linguagem dos quadrinhos, nos quase dois anos de curso que fiz na HQ em Foco, mas não sou o único que pensa assim. Esteves já foi agraciado com diversos prêmios, dentre os quais o Angelo Agostini 2009 de melhor roteirista nacional. 

Na trama de O Louco a Caixa e o Homem, um rapaz à caminho de uma festa é atormentado por um estranho segurando uma caixa. E tudo começa com uma das falas que sintetiza toda a HQ: “Com licença, saberia me informar para onde estou indo?” Isso é só o começo de uma história completamente doida e cheia de diálogos aparentemente sem sentido. Essa foi a maneira encontrada pelos autores de fazer com que os leitores fugissem da normalidade, imergindo num mundo completamente fora do senso comum.

O louco acaba sendo a representação de toda aquele insanidade dentro de cada um, que precisa todo dia seguir o mesma vida metódica, dentro dos padrões de normalidade estabelecidos pela sociedade.

Por fim, precisamos falar sobre a arte de Will. Eu, particularmente, só vim a conhecer o trabalho dele nessa HQ e virei fã. Ela se encaixa perfeitamente com o texto de Daniel. Os enquadramentos concedem agilidade e fluidez, tornando a leitura agradável e nem um pouco cansativa. Não sei se ainda existem volumes a venda, mas procurem no site da Petisco.

Triunfo e Tormento

Posted: 11/08/2014 in Quadrinhos

Nos anos 80, a DC era uma verdadeira fábrica de preciosidades (nessa época foram lançadas coisas como Watchmen, O Cavaleiro das Trevas, Camelot 3000 e outras). A Marvel, até o momento, encontrava-se sempre em segundo lugar. Para mudar isso, a Casa das Idéias convida Roger Stern e Michae arl Mignola (mais tarde Mike) para criar uma graphic que voltasse a atenção da mídia para os mesmos. 

Para a história, foram escolhidos dois personagens muito famosos, que hoje infelizmente caíram em ostracismo: Stephen Strange e Victor Von Doom. Os respectivos Dr. Estranho e Dr. Destino são dois dos personagens mais intrigantes e profundos dos quadrinhos e nas mãos de Stern e Mignola ganharam uma das aventuras mais legais daquela época.

Na trama, somos levados ao profundo reino do demônio Mefisto. Ali uma mulher suplica por liberdade e o único que pode salvá-lo é seu filho, o famigerado déspota da Latvéria. Com a ajuda do mago mais poderoso do universo marvel, Strange, Doom vai ser jogado numa traiçoera jornada ao território inóspito do mal absoluto. Como eu li num site uma vez, “será uma busca de seu tão aguardado triunfo… ou de reviver seu maior tormento”.

Na poucas mais de 80 páginas da obra, Stern consegue definir cada personagem muito bem, trabalhando a personalidade e história de cada um dos dois, trazendo aos leitores algumas novidades nas já definidas origens tando de Strange quanto de Doom. Quanto à arte, vemos um ótimo Mike Mignola em promissor começo de carreira, galgando seus primeiros passos no mercado americano.

O Demolidor é o típico personagem sem muito consenso de qualidade. Vez ou outra algum autor cria uma história épica, mas em muitos momentos, o herói acaba vivendo um ostracismos criativo e permanece estagnado com aventuras simplórias e inúteis. Mas é fato que ele é um dos personagens mais interessantes já criado pela Marvel. E faziam alguns anos que o personagem não ganhava uma saga “decente”.

Para remediar isso, a Marvel convidou nada menos que um dos mais novos gênios do cinema: Kevin Smith. O autor, fã confesso de quadrinhos, já havia tido pequena experiência na nona arte, mas nunca tinha sido incumbido de tão grande tarefa. O Homem sem Medo já não via um arco de qualidade desde a passagem histórica de Frank Miller pela revista (de onde saiu a tão aclamada A Queda de Murdock) e agora cabia a Smith criar algo com a mesma qualidade.

E sua missão foi cumprida. Desde A Queda não víamos uma trama que trabalhasse tão bem o personagem. Desde seu lado herói até o seu lado mais humano (inclusive exercendo suas funções de advogado). Para quem não conhece, Matthew Murdock era um excelente aluno e atleta, que acaba por ficar cego ainda na adolescência devido a um acidente com um caminhão de lixo tóxico. Em compensação, descobriu que seus outros sentidos haviam sido muito extremamente ampliados, a ponto de sua audição se tornar uma espécie de radar. Assumiu o uniforme e o codinome de Demolidor para vingar seu pai, Jonathan “Jack” Murdock, um boxeador em decadência e que foi morto ao recusar “entregar” uma luta.

Na trama de Diabo da Guarda, Matt Murdock se vê com um bebê sob seus cuidados, que pode ser Cristo renascido (ou o Anticristo). Enquanto isso, ele luta contra seus famigerados demônios internos e com um de seus piores arqui-inimigos. Smith criou um roteiro bem elaborado, mantendo sempre um ritmo de crescente tensão. A arte de Quesada está ótima e este foi considerada por muitos como seu melhor momento.

O Espinafre de Yukiko

Posted: 09/08/2014 in Quadrinhos

Lá pelas idas de 2005, a Conrad era uma das principais editoras de quadrinhos no Brasil. Diferente das outras, eles apostaram muito alto em encadernados e publicações diferenciadas. Eles foram responsáveis pela chegada de algumas pérolas para terras tupiniquins. Desde os excelente trabalhos de Crumb até coisas mais singelas, como este O Espinafre de Yukiko, de Frederic Boilet.

Eu poderia utilizar muitas linhas para descrever a obra, mas o jornal A Gazeta conseguiu resumir a HQ em poucas palavras, as quais farei as minhas: “tradicional narrativa visual dos mangás, com os traços elaborados dos quadrinhos franco-belgas e um olhar mais puro diante da vida herdado do cinema de François Truffaut e Jean-Luc Godard. A história em quadrinhos conta de forma delicada o romance entre o autor e uma jovem japonesa chamada Yukiko”.

Na trama, Boilet vive um triângulo amoroso com a jovem Yukiko e Horiguchi. Yukiko é apaixonada por Horiguchi, mas quando a namorada do mesmo volta ao Japão para uma visita, Boilet faz uma proposta para Yukiko. Enquanto a mulher estiver no Japão, os dois vão aproveitar e usufruir um do outro. Sem apegos ou compromisso.

A história é muito bonita, o roteiro é extremamente bem amarrado. Boilet usa os diálogos com moderação mas sempre de forma impactante. As poucas falas são fortes e nos fazem refletir por um tempo. A grande atração da obra é a arte. O traço realista de Boilet é muito bem feito. Ele abusa do efeito de visão em primeira pessoa (nos lembrando sempre que aquela é uma história realmente vivenciada por ele) e isso ajuda na imersão do leitor na história. Muita gente criticou o excesso de cenas de sexo, mas aqui ela é inerente e Boilet as cria com extrema beleza (mesmo que crua e realista).

Nós gostamos!

Não gostamos muito de falar sobre o Super-Homem por um único motivo: não gostamos muito dele. Toda a caracterização do homem de aço nos deixa entediados. Sempre tão perfeito e ideologicamente correto. Ele dificilmente nos cativou. Claro que o mesmo possui algumas das histórias mais brilhantes já escritas (Identidade Secreta, Entre a Foice e o Martelo, Paz na Terra, Para o Homem que tem Tudo e outras), mas sempre optamos por outras leituras.

Mas quando nós batemos o olho em Grandes Astros Superman foi uma sensação ótima. Pela primeira vez eu realmente sentia necessidade de ler uma história dele. Mais que uma história em quadrinhos, a obra foi a maneira perfeita que Grant Morrison encontrou para mostrar toda a paixão que sente pelo Super-Homem. Ele fez uma das histórias mais belas de todos os tempos. 

Na trama, o azulão precisa resgatar um nave que está muito próxima do sol. Envenenado pelo excesso de radiação solar, a mesma que lhe confere seus poderes, o Homem de Aço tem cerca de um ano para viver. Com isso em mente, ele passa a se preparar para deixar a humanidade que tanto ama, mas para isso, ele precisa efetivamente garantir que o mundo estará em segurança quando ele partir.

Complementando a singela narração, temos a arte de Frank Quitely, que sem exageros, mostrou nessa obra o seu melhor trabalho. A arte é excepcional e traduz em cores e traços toda sua devoção pelo herói. Quitely se superou em todos os sentidos possíveis.

Uma vez eu li num blog uma afirmação que fez muito sentido sobre essa história. “Mesmo que você odeie o filho de Kripton, existem grandes possibilidades de você gostar da história”.

A genialidade de Alan Moore não pode ser discutida. Já falamos disso em outra postagem, mas não custa nada lembrar disso. E a passagem dele por alguns personagens acabam gerando pontos históricos na vida dos mesmos. Nesse caso, um conto de apenas 12 páginas escrito por ele em 1986, repercutiu em toda a galáxia (isso será retomado em outra postagem… enquanto isso fiquem curiosos).

Publicada na revista Tales of Green Lantern Corps Annual #2, Tigres é uma história típica da insanidade de Moore. Nela, Abin Sur precisa descer até o planeta Ysmault para resgatar um nave caída. O planeta é a prisão uma poderosa casta de demônios há muito derrotada pelos Guardiões: o Império das Lágrimas. Um adendo para falarmos sobre a arte de Kevin O’Neil: espetacular e completamente absurda. Um deles, chamado Qull das Cinco Inversões, se oferece a responder a três perguntas. Abin o testa perguntando o paradeiro da nave caída, e recebe a resposta correta.

Depois de resgatar os sobreviventes, Abin retorna até Qull e faz as duas perguntas restantes. Qull revela duas profecias. Uma sobre a Noite Mais Densa (aquela que será a mais terrível ameaça da Tropa dos Lanternas) e sobre como Abin morrerá.

Alan Moore foi extremamente inteligente nesse conto e respondeu uma das perguntas que mais intrigavam os fãs do cavaleiro esmeralda: Por que diabos Abin Sur utilizava uma nave no dia em que caiu na terra e não seu anel energético. O’Neil também dá uma aula de desenho, com ótimos enquadramentos e uma arte belíssima.

Na nossa humilde opinião, o Batman é o melhor personagem já criado nos quadrinhos. Ponto. Claro que muitos não concordam, mas é apenas o que nós achamos. O Batman é o único herói completamente humano, que mesmo sem nenhum poder, é capaz de derrotar qualquer um. Até mesmo o Super-Homem. Criado por Bob Kane em 1939, o Homem Morcego é um dos heróis mais conhecidos no mundo.

Sua origem é amplamente conhecida: após o presenciar assassinato de seus pais durante um assalto, o jovem Bruce Wayne passa a viajar o mundo, treinando seu corpo e sua mente para utilizá-los como suas armas na luta contra o crime. Ao longo de todos esses anos, ganhou histórias memoráveis e que se tornaram marcos no mercado. Além disso, é o personagem com a maior quantidade de adaptações fora das páginas dos quadrinhos.

O Cálice é a típica HQ pouco conhecida e que não apresenta nada muito inovador. Mas mesmo assim possui diversos atributos que a transformam numa ótima história. Na trama, um misterioso pacote é confiado à Bruce. Dentro dele, um objeto supostamente sagrado, precisa ser protegido a todo custo pelo Homem Morcego. A partir daí, veremos uma história repleta de misticismo numa aventura sombria e eletrizante.

A ideia não é nova, mas Chuck Dixon (um dos maiores autores que já trabalhou com Batman e todos os outros personagens secundários de Gotham) consegue prender nossa atenção a cada página, sem nos cansar e sem subestimar a inteligência do leitor. Mas o grande mérito da obra, a nosso ver, é a arte de John Van Fleet. Os quandros estão perfeitamente construídos e todas as cenas são muito bem retratadas. As cores também se fazem um show a parte.

Como dissemos, nada inovador, mas muito bom.

Quem gosta de quadrinhos (e livros em geral) sabe que o ritual de garimpar sebos é, muitas vezes, uma experiência completamente surpreendente. Você pode ficar um dia inteiro e voltar para casa com as mãos abanando, ou pode encontrar aquela obra que você tanto queria. Melhor ainda, você pode descobrir uma que você sequer sabia da existência.

No nosso caso, Justiça LTDA foi a segunda opção. Encontramos a minissérie em duas partes e resolvemos arriscar. Lançada no Brasil pela Abril, em 1990, a história de Andrew Helfer com arte de Kyle Baker nos apresenta Richard Benson, um homem que pode manipular livremente os músculos de seu rosto, podendo inclusive tomar a aparência de qualquer pessoa. Com essa habilidade, o Vingador (codinome de Benson) passa a atuar como agente secreto dos Estados Unidos.

Helfer faz um releitura muito interessante de um antigo herói pulp, dos anos 30, dando amplitude e profundida ao protagonista. Sua origem permanece a mesma: Benson adquire sua habilidade após sofrer um colapso quando sua esposa e filho são assassinados. A história em si, é altamente política, sustentando o ponto de vista de crítica ao modelos de agressão americano no meio de um cenário de Guerra Fria.

A arte de Baker cumpre muito bem sua função e mostra uma genialidade simples vista em poucas pessoas. As cores fracas ressaltam a ideia de um mundo em decadência. Uma raridade de ser encontrada. Quem tem, cuide bem.